RU UM CORREDOR DA VITÓRIA!
Muito
bacana a iniciativa dessa galera residente, em resgatar e transformar um
recente passado muito brilhante na nossa formação política, ideológica, social
e consequentemente cultural, quando transformamos um espaço de moradia e
restaurante estudantil coletivo e publico, num espaço de luta pela
sobrevivência com dignidade, sem admitir relações autoritárias, e pseudo
moralizadora e/ou dádiva da caridade estatal.
No
Corredor da Vitória e no bairro do Canela, os estudantes e as estudantes,
considerados (as) “carentes” financeiramente, entenderam que a gente não queria somente, comida, a
gente queria liberdade e consciência critica.
Com essa
determinação criamos a União Livre de Residentes e Comensais – ULRC, entidade
considerada pelo reacionarismo de direita e esquerda stalinista, de bagunceiros
e pejorativamente de anarquista, anarquista na essência política e filosófica sim, até que
aceitávamos com muito orgulho.
Sonhávamos
com as revoluções políticas, embora, já com desconfiança de que havia algumas
incoerências nas praticas de algumas lideranças políticas que prometiam a
igualdade através da ditadura do “proletariado”.
Alias, a história política do Leste
Europeu, com os regimes e governos ditos socialistas liderados por modelos de
gestão com sistemas de controles dos centralismos burrocraticos, anunciavam a
falência desse utópico sonho de sociedade socialista com liberdade, ou a
perspectiva da revolução permanente.
“A ULRC passou a ser uma ameaça para os
grupos e organizações estudantis tradicionais, aparelhadas pelas antigas e
legitimas organizações “?comunistas?”, a exemplo dos diretórios estudantis –
DCE – UNE, e etc., onde a bulas doutrinarias dessas organizações não admitiam
formas de organizações com estruturas e gestão descentralizada e/ou colegiada,
desatrelada do centralismo doutrinário clássico e dogmático, reproduzido da
forma de organização autoritária. Reich e outros jovens revolucionários foram
penalizados quando questionaram as teses das internacionais ¿comunistas?.
No
espaço do Restaurante Universitário e Residência nº 01, implementamos um
verdadeiro Centro Cultural onde aconteceram varias atividades problematizadoras
sobre as diferentes ideologias com temas sobre a relação do comportamento
desbundante com a conquista democrática, rompendo com o falso moralismo
burguês.
Algumas
vezes fizemos refeições envolvidos diretamente com performance de teatro como
aconteceu com o teatro oficina liderado pelo vanguardista Zé Celso Martins e
sua antropofágica animação corporal, além de Tom Zé, Elba Ramalho, Geraldo
Azevedo, Zelito Miranda, Diana Pequeno, até mesmo Gilberto Gil comendo o nosso
caruru, e Caetano Veloso que passeou de escuna na praia do batizado balneário
XANGRI-LÁ, rendendo solidariedade contra os ataques que a imprensa carlista
fazia no jornaleco Correio, anunciando que nossa praia “privada” era um espaço
de orgia, repertorio que criava a justificativa para fechar o restaurante e a
residência, dessa maneira, desativava um espaço que incomodava o regime
ditatorial, ao mesmo tempo, atendendo à especulação imobiliária com a
estratégia de investimentos dos gigantes edifícios para abastados ricos
contemplarem o belo visual da Baia de Todos os Santos e Orixás.
É
triste observar esses espaços abandonados com o propósito de desativá-los,
abrigando a estudantada em outro ambiente novo, moderno, próximo ao campus,
mais pratico de moldar confortavelmente essa juventude ao espírito e
convertimento da sociedade consumista e eminentemente conservadora, iluminando
o liberalismo daqueles que acumulam e concentra mais capital e poder.
A
instituição universitária vai arrecadar mais grana nos leilões do jogo
imobiliário, entregando esse nobre espaço para edificar mais um espigão ou
torre de moradia, verticalizando a ignorância e prepotência da nossa elite.
Será que não temos chance de manter aquele
espaço como um Centro Cultural com memorial das lutas pelas liberdades
democráticas?
Precisamos contar a historia de vida de
muitos anônimos universitários que abrigados nesse aposento conseguiram na
condição de filhos e filhas de gentes humildes operários(as), camponeses(as),
órfãos e filhos e filhas de pessoas que tinham suas subsistências nos trabalhos
penosos e informais, se formarem, e muitas pessoas até ocuparem destacadas
posições de lideranças políticas, empresariais, e outras funções relevantes na
sociedade tão dessemelhante e desigual.
Será
que nossos dirigentes universitários, parlamentares, etc, que talvez, alguns
desses tenham freqüentado e participado das lutas estudantis articuladas no
restaurante e residência do Corredor da Vitória, não se sensibilizem para ainda
propor transformar aquele espaço em algo especial para guardar e difundir parte
da nossa verde historia?
Esse espaço, nós transformamos em
trincheira para abrigar as primeiras discussões das organizações clandestinas
com foco na construção do partido dos trabalhadores, quando algumas outras
contestavam o surgimento da liderança operaria de Lula, com desconfiança que
era aquele nordestino retirante e metalúrgico um enviado infiltrado agente da
CIA, para trair a luta do trabalhador, alguns de nós que entendíamos ao
contrário, garantimos que era importante à criação de um partido dos
trabalhadores com perspectiva de politização em massa, para romper e enfrentar
a luta política que se anunciava com a saída da chamada democracia negociada,
lenta, mentirosa e gradual, que a correlação de força impunha.
Todo
esse aprendizado, nesse histórico e marcante espaço do Corredor da Vitória,
anunciava alguns desapontos com traições, incoerências, que vivenciamos na
politicagem atual, argumentada e justificada como necessidade da
governabilidade e/ou governança.
Quem
não viveu intensamente essa politização juvenil e adulta no movimento
estudantil, pode estar vivendo decepções e depressões, mas, quem aprofundou
essas questões, deve ter muito orgulho de ter participado desse momento
histórico, contabilizando satisfações em ter visto muitos(as) colegas ainda
engajados na luta pela transformação da sociedade injusta por uma sociedade
socializadora de oportunidades iguais para a grande maioria descriminada e
espoliada pela corrupção e ganância capitalista.
Tenho
orgulho em ter acompanhado o crescimento intelectual e criativo do
contemporâneo Joel Almeida, que chegando timidamente do município de Cruz das
Almas, juntou-se à baixinha e grande Paraibana jornalista Berna para garantir a
exibição de filmes no Cineclube RU, alimentado pelas discussões e debates com
as analises e colaborações sobre a linguagem cinematográfica, mediada pelo
compositor, poeta, escritor, roteirista e critico de cinema também paraibano
Bráulio Tavares, eu mesma e outros colegas e amigos cinéfilos.
Tenho
orgulho das convivências sadias com muitos amigos, amigas, namoradas, e também,
ter travado muitos embates teóricos de alto nível, com diferentes colegas com
divergentes idéias, mas, de maneira respeitosa e acalorada, nos remetia a
estudar mais, e muito mais a nossa realidade.
Sem
teoria revolucionaria, não há revolução, mas, a teoria revolucionária é
formulada com praticas transformadoras e audaciosas.
Foram
muitos acontecimentos maravilhosos, cômicos, extemporâneos muitos divertidos e
algumas vezes tensos, a exemplo da brutal e humilhante expulsão a que nos fomos
submetidos pela voraz ditadura, quando, durante a madrugada de uma quinta feira
“santa”, um contingente militar fortemente armado invadiu a residência nº01,
para por fim a um ciclo de convivência política idealista, que se esgotava
nesse espaço, afinal de contas tínhamos mesmo outras tarefas.
Fincamos
os movimentos: Alternativa, Manifesto Alerta, Solidariedade, Luz, e outras
audácias, que desnorteava a companheirada mais sisuda.
O
sonho não acabou quem não dormiu nessa pousada, nunca sonhou.
Continuo
sonhando sem pesadelo, porque acredito em quem sempre manteve a coerência, o
resto a historia julgará.
Joel
tem muitos fatos para vários roteiros, essa historia é farta para muitos
filmes.
Lutemos
para transformar as antigas residências estudantis universitárias em Centro de
Estudo e Ação Cultural, promotora de extensão universitária, interagindo
socialmente com a comunidade.
Penso
que ainda temos tempo para lutar por algo politicamente nobre.
Confirmo minha presença logo mais, na
trincheira que cumpriu papel libertário para muitos jovens.
Grande Abraço!